Thursday 21 June 2007

O poema que me esvaziou emocionalmente - depois deste não consegui escrever mais nenhum

Cerejas


Começo a ver morangos, fico logo ansioso.

Chegando a Maio, fico todo nervoso.

Pareço um miúdo irrequieto a viajar de carro:

“Será que as cerejas ainda estão muito ao largo?”


Quando finalmente aparecem, não consigo resistir.

Como-as umas atrás das outras, sem remorsos

Um caixote em minha casa não dura muito

Pareço uma máquina de cuspir caroços.


Raridade entre as frutas, parece que quanto maior melhor.

Grandes, escuras e carnudas é o que a gente quer.


Eu sei que o que é bom dura pouco,

Mas a sua passagem parece-me demasiado passageira.

Um mesito e meio e acabou-se, adeus, até para o ano.

Como recordação, apenas uma tremenda caganeira.


Não gosto particularmente de as ver processadas,

Em chocolate, iogurte, chá, rebuçado.

A cereja em cima do bolo para mim não é a cereja em cima do bolo.

Não se faz em calda algo tão delicado.


E ainda têm a desfaçatez de me vir perguntar se eu não gosto de cerejas!

Gosto, pois! Por isso é que as respeito!


Por causa de uma maçã foi o Homem expulso do paraíso

Mas a cereja é o único fruto que merece tal sacrifício.

1 comment:

Lemmings said...

Não gosto lá muito de cerejas...